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15 de julho de 2023

O macarrão feito de insetos que divide italianos

 

Em uma fazenda perto dos Alpes, no norte da Itália, contêineres com milhões de grilos pulando e cantando alto são empilhados uns sobre os outros.




Esses grilos estão prestes a se tornar comida. O processo é simples: são congelados, fervidos, secos e depois pulverizados. Aqui na Italian Cricket Farm, a maior fazenda de insetos do país, cerca de um milhão de grilos são transformados em ingredientes para alimentação todos os dias.




Ivan Albano, que administra a fazenda, abre um recipiente para revelar uma farinha marrom clara que pode ser usada na produção de massas, pães, panquecas, barrinhas energéticas - e até isotônicos.




Comer grilos, formigas e vermes é comum em partes do mundo há milhares de anos.




Agora, depois que a União Europeia (UE) aprovou a venda de insetos para consumo humano no início deste ano, haverá uma mudança de atitude em toda a Europa?



Bem, em nenhum lugar da Europa há mais resistência a comer insetos do que na Itália, segundo dados da empresa global de opinião pública YouGov, e as objeções vêm de cima - o governo já tomou medidas para proibir seu uso em pizzas e massas.




“Vamos nos opor, por qualquer meio e em qualquer lugar, a essa loucura que empobrece nossa agricultura e nossa cultura”, escreveu o vice-primeiro-ministro Matteo Salvini no Facebook.




Mas será que tudo isso está prestes a mudar? Vários produtores italianos vêm aperfeiçoando massas, pizzas e lanches de grilo. "O que fazemos aqui é muito sustentável", diz Ivan. “Para produzir um quilo de pó de grilo, usamos apenas cerca de 12 litros de água”, acrescenta, lembrando que produzir a mesma quantidade de proteína de vaca requer milhares de litros de água.




A criação de insetos também requer apenas uma fração da terra usada para produzir carne. Dada a poluição causada pela indústria de carne e laticínios, cada vez mais cientistas acreditam que os insetos podem ser a chave para combater as mudanças climáticas.




Em um restaurante perto de Turim, o chef Simone Loddo adaptou sua receita de massa fresca, que remonta a quase 1.000 anos - a massa agora é 15% de pó de grilo.




O local emana um cheiro forte de nozes.




Alguns dos comensais se recusam a experimentar o tagliatelle de grilo, mas aqueles que o fazem - inclusive eu - ficam surpresos com o sabor




Além do sabor, o pó de grilo é um alimento repleto de vitaminas, fibras, minerais e aminoácidos. Um prato contém mais fontes de ferro e magnésio, por exemplo, do que um bife normal. Mas essa é uma opção realista para quem quer comer menos carne? A questão principal é o preço.




"Se você quiser comprar comida à base de grilo, vai custar caro", diz Ivan. "A farinha de grilo é um produto de luxo. Custa cerca de 60 euros (R$ 323) por quilo. Se você levar macarrão de grilo, por exemplo, um pacote pode custar até 8 euros (R$ 48)."




Isso é até oito vezes mais do que a massa normal do supermercado.



Por enquanto, os alimentos com insetos continuam sendo uma opção de nicho nas sociedades ocidentais, já que os agricultores podem vender aves e carne bovina a preços mais baixos.

"A carne que produzo é muito mais barata que a farinha de grilo e é de muito boa qualidade", diz Claudio Lauteri, dono de uma fazenda perto de Roma que pertence a sua família há quatro gerações



Mas não se trata apenas de preço. É sobre aceitação social.

Em toda a Itália, o número de pessoas que vivem até os 100 anos ou mais está aumentando rapidamente. Muitos apontam a dieta mediterrânea como o Santo Graal para um estilo de vida saudável.




"Os italianos comem carne há séculos. Com moderação, é definitivamente saudável", diz Claudio.

Ele acredita que a comida à base insetos pode ser uma ameaça à tradição culinária italiana - algo universalmente sagrado neste país.




"Esses produtos são lixo", diz ele. “Não estamos acostumados com eles, não fazem parte da dieta mediterrânea. E podem ser uma ameaça para as pessoas: não sabemos o que comer insetos pode fazer com nossos corpos."




"Sou absolutamente contra esses novos produtos alimentícios. Recuso-me a comê-los."


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