Um dos pontos centrais do novo calendário é a redução da carga de partidas para clubes da Série A. A intenção é diminuir a sobrecarga de atletas e permitir melhor preparo físico e técnico das equipes.
Os tradicionais e charmosos campeonatos estaduais também sofreram cortes, passando de até 16 datas para, no máximo, 11, sendo disputados entre janeiro e março.
Já o Campeonato Brasileiro terá início no primeiro mês do ano e se estenderá até dezembro, mas com interrupções programadas para eventos internacionais, como a Copa do Mundo (2026), a Copa do Mundo de Futebol Feminino (2027), a Copa América (2028) e Copa do Mundo de Clubes da FIFA (2029).
Outro destaque é a expansão da Copa do Brasil, que termina após o Campeonato Brasileiro e passa de 92 para 126 participantes, com fases iniciais em jogo único, entrada tardia dos clubes da Série A, e uma questionável e infeliz ideia de uma final em jogo solitário, o que retira do torcedor a possibilidade de ver o time campeão em sua própria cidade.
Avanços: saúde, previsibilidade e inclusão
As novidades foram celebradas por parte da comunidade esportiva. Para os grandes clubes, significa menos desgaste físico e logístico, um problema crônico em temporadas com jogos a cada três dias. Além disso, a definição antecipada do calendário até 2029 traz segurança e previsibilidade, algo raro no futebol brasileiro.
Clubes menores também têm razões para comemorar, com a ampliação da Copa do Brasil; a reformulação e ampliação das vagas para a Série C, a partir de 2027, e a expansão da Série D, já no próximo ano. As equipes também devem ser beneficiadas com a criação e/ou reformulação de competições regionais para contemplar os clubes fora dos torneios internacionais, como Copas Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul-Sudeste. As iniciativas devem reduzir a inatividade de equipes que hoje ficam sem calendário durante boa parte do ano. Para os jogadores, a expectativa é de mais espaço e visibilidade fora dos grandes centros.
Retrocessos: tradição ameaçada e desigualdade
Por outro lado, a reforma também traz preocupações. A redução dos torneios estaduais levanta debates sobre a perda de relevância das rivalidades locais e ameaça a principal fonte de receita de clubes pequenos, que dependem da bilheteria e da visibilidade regional para sobreviver.
Outro ponto de atenção é a possibilidade de ampliar a desigualdade. Enquanto os grandes clubes podem se beneficiar de mais descanso e preparação para torneios internacionais, os menores podem enfrentar dificuldades com custos de viagem e adaptação às novas exigências, sem a mesma estrutura financeira.
Quem ganha e quem perde
O balanço inicial aponta que os maiores beneficiados são os clubes da Série A, especialmente os que disputam competições internacionais, como a Libertadores da América e a Copa Sul-americana. Eles terão mais tempo de descanso, menos risco de lesões entre seus jogadores e maior condição de planejar a temporada.
Apesar da expectativa de um novo cenário, os potenciais prejudicados tendem a ser clubes médios e pequenos, além de federações estaduais que perderão relevância com torneios mais curtos. Os torcedores também podem sentir falta dos clássicos regionais em maior número.
Um passo necessário, mas insuficiente
Especialistas avaliam que o novo calendário representa um avanço inegável, colocando o Brasil mais próximo de modelos internacionais e garantindo maior racionalidade ao calendário esportivo. No entanto, alertam que a execução será determinante.
Sem medidas de compensação para clubes e federações menores, há risco de o novo formato concentrar ainda mais poder e recursos nos grandes clubes, acentuando uma disparidade histórica no futebol brasileiro.
O calendário 2026-2029 pode, portanto, marcar o início de uma nova era no futebol nacional, mas só terá sucesso se for capaz de equilibrar os interesses de quem está no topo e de quem ainda luta para sobreviver.

